sábado, 16 de janeiro de 2010

O NOVO PADRE VASCO

P.e Vasco de Oliveira Pedrinho – Pároco de S. Vicente da Branca

O P.e Vasco Pedrinho, 32 anos, é pároco da Branca desde 4 de Outubro de 2009. Padre da Diocese de Lamego, ordenado no dia 10 de Agosto de 2002, está “emprestado” à Diocese Aveiro, tendo colaborado na paróquia de Beduído (Estarreja) entre Fevereiro e Outubro deste ano.



CORREIO DO VOUGA – Como estão a ser estes primeiros tempos na paróquia da Branca?
P.E VASCO PEDRINHO – Estão a ser bons, mais ou menos de acordo com o que eu pensava. Já sabia, quando estava em Estarreja, que é uma paróquia grande, com uma certa dimensão populacional e com vários centros de culto – três para além da Igreja. É um desafio, para mim, conhecer e ir sempre mais além na acção pastoral, dando resposta às necessidades da comunidade.


Conte-nos o seu percurso até chegar à Diocese de Aveiro.
Fui pároco durante cinco anos no arciprestado de Cinfães, diocese de Lamego. O Sr. Bispo de Aveiro é de Tendais e eu estive nas paróquias vizinhas. Depois fui destacado pela Conferência Episcopal para a Pastoral Juvenil Nacional. Estive em Lisboa um ano. Não me enquadrei bem naquele trabalho. Senti que seria necessário uma formação em Pastoral Juvenil, para além da experiência, que era pouca da minha parte. Entretanto cessou esse meu mandato e D. António Francisco requereu ao bispo de Lamego, D. Jacinto, que me dispensasse e viesse ajudar na Diocese de Aveiro.


O nosso Bispo já tinha sido seu superior no tempo do Seminário?
Não. Ele tinha sido vice-reitor do Seminário de Lamego, uns anos antes. Só foi meu professor de Teodiceia ou Teologia Filosófica.


A sua entrada na Diocese aconteceu em Estarreja…
Fui para Estarreja no dia 15 de Fevereiro. Era um lugar muito necessitado, atendendo às limitações do Sr. Reitor, P.e Fragoso, em termos de visão. Estarreja é uma comunidade com dinâmica e vigor, muito participativa. Tenho boas recordações…


…Por isso, uma delegação de Estarreja acompanhou-o ao entrar na Paróquia de S. Vicente da Branca.
Sim. Veio uma boa representação da paróquia de Beduído como testemunho de amizade e sinal de que os laços perduram para além dos escassos meses… Houve marcas de parte a parte, uma empatia recíproca.


Na sua nova paróquia, qual é a sua maior preocupação pastoral?
Que as pessoas vivam a partir de Cristo e com Cristo e que a partir dele se construa uma verdadeira comunidade, onde não baste falar do Evangelho, mas se viva o Evangelho. E que este seja motivo de transformação e de renovação da comunidade e das pessoas. Em termos de prioridades, é importante apostar na formação das crianças e dos jovens, através da catequese, e dos adultos também. Há momentos e âmbitos em que podem e devem participar.


Como sente que as pessoas olham hoje para o padre?
As que pessoas que vivem a fé têm carinho pelo padre que está à frente da comunidade. Isso é notório. Há boa aceitação, respeito. Da minha parte também procuro fazer tudo para que corresponda àquilo que é necessário para as pessoas ao nível da vivência da fé.


O que é para si ser padre hoje?
A pergunta é geral, mas devemos ir sempre à fonte. E a fonte é Jesus Cristo, é Deus, que chama. Ser padre é ser o rosto de Cristo entre as pessoas. Qualquer cristão pode e deve sê-lo, à sua maneira. Mas o padre é, de facto, de modo especial, esse sinal da presença de Jesus Cristo.


Quando surgiu a sua vocação para o sacerdócio ministerial?
Desde muito cedo. Ainda ontem (25 de Novembro), estive nas escolas, a convite da professora Idalina, porque estão a tratar o tema vocacional nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, e relatei o meu percurso, desde a quarta classe. Nessa altura já sentia uma certa simpatia por ser padre. Admirava a sua figura, talvez por influência do meu pároco. O ambiente familiar também foi favorável. Os meus pais andaram pela Acção Católica e pelos Cursos de Cristandade. Quando eu tinha 10-11 anos, o meu pároco perguntou-se se queria conhecer o Seminário e eu disse que sim. Integrei depois o Pré-Seminário e fiz os meus estudos em escolas públicas até o 12.º ano. A minha “carreira” de seminarista limita-se ao curso superior de seis anos no Seminário Maior.


Na actualidade é mais difícil a dinâmica vocacional?
A meu ver, o problema é o ambiente, que é adverso às vocações em geral. Vemos que, no caso do matrimónio, o modelo tradicional de família está abanado. As vocações religiosas e sacerdotais também se ressentem desse ambiente que não é favorável. Até o facto de as famílias terem menos filhos é contrário ao surgimento de novas vocações.


O ambiente é adverso por não incentivar compromissos?
Julgo que sim. Há dificuldade em assumir compromissos a longo prazo, em assumir uma vida totalmente entregue. Por isso é que também há um número avultado de divórcios.


Referiu há pouco a ida às aulas de EMRC da EB 2.3 da Branca. Como tem sido a experiência?Tem havido bom acolhimento por parte da comunidade escolar, quer dos funcionários quer dos professores. E os miúdos fazem uma festa.


Muitos são seus paroquianos…
Quase todos. Alguns estavam bastante ansiosos por me verem. A Sr.ª professora já os tinha preparado. Dei-lhes o meu testemunho e respondi a questões.


Que questões surgiram?
As normais. Por exemplo: Por que é que os padres não se podem casar? Eu respondo-lhes que a Igreja, no seu todo, assim estabeleceu, e que o celibato não é uma imposição, mas uma opção, porque os que querem ser padres contam com essa condição. Mas também lhes digo que nem sempre foi assim na História da Igreja. Perguntam também porque é que as mulheres não podem ser padres. As perguntas reflectem muito a comunicação social.


A ida à escola foi espaço de proposta vocacional?
Noto sempre que esta presença do padre nas escolas é positiva. Poderá dar os seus frutos. Fala-se de encontros do Pré-Seminário, há uma ficha que é distribuída. Alguns dizem logo: “Eu não!” Mas outros dizem que querem ir ao Seminário e que lá se joga futebol…


Há dias esteve no Seminário de Aveiro com um grupo da Branca…
Foram catequistas, pais, jovens e crianças além de mim e do diácono Luís [diácono permanente de Lamego que está com o P.e Vasco na Branca]. Penso que é muito importante que os adultos conheçam por dentro o Seminário para incentivarem e explicarem aos mais novos.


O que gosta de fazer no seu tempo livre?
Gosto de ler e passear. Leio principalmente livros espirituais, de formação religiosa, relacionados com a fé e o meu ministério. Não vou muito para coisas como “O Código da Vinci”, mas reconheço que até devia co-nhecer para poder falar. Mas é uma literatura que não me cativa. Um dos últimos que li foi “A saga de um pensador”, de Augusto Cury. Gosto de passear e de conhecer terras e paisagens. Gosto da serra e do mar.


Daqui de cima [a Igreja da Branca e a residência paroquial ficam no alto da vila], vê-se a ria de Aveiro…
Há dias em que o cenário é extraordinário. Às vezes estou sentado na cadeira presidencial, com as portas da igreja abertas, e vejo a ria e o mar. Ontem à tarde, o sol reflectia-se na água e proporcionava um espectáculo único. É inspirador.


Faz pensar “nas margens do mar da Galileia”?
O mar não é um calmante, mas é algo que dá paz.


Entrevista conduzida por:
Jorge Pires Ferreira
para o Correio do Vouga

Sem comentários:

Enviar um comentário