domingo, 25 de julho de 2010

CORES LITURGICAS NA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA


As cores litúrgicas na Igreja Católica Apostólica Romana são reguladas pelo nº. 346 da vigente Instrução Geral do Missal Romano (doravante, IGMR), 3a. edição típica, promulgada em março de 2002 juntamente com a nova edição do Missal Romano. A IGMR establece que seja sempre observado o uso tradicional, mas as Conferências Episcopais podem determinar e propor à Santa Sé adaptações que correspondam às necessidades e ao caráter de cada povo.

As cores aprovadas pela IGMR, segundo o uso tradicional, e seus respectivos tempos de uso são o branco, o vermelho, o verde, o roxo, o preto e o rosa. O uso de diversas cores litúrgicas na Igreja Católica exsurgiu dos significados místicos atribuídos a cada uma delas. Cores não previstas diretamente na IGMR, como dourado, prateado e azul serão discutidas abaixo.


O branco é usado nos Ofícios e Missas do Tempo Pascal e do Natal do Senhor, bem como nas suas festas e memórias, exceto as da Paixão; nas festas e memórias da Bem-av. Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, na festa de Todos os Santos (1 de Novembro), na Natividade de São João Baptista (24 de Junho), na festa de São João Evangelista (27 de Dezembro), da Cátedra de São Pedro (22 de Fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de Janeiro). O branco é símbolo da luz, tipificando a inocência e a pureza, a alegria e a glória.


O vermelho é usado no Domingo de ramos e na Sexta-feira Santa; no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas festas dos Apóstolos e Evangelistas (com exceção de São João), e nas celebrações dos Santos Mártires. Simboliza as línguas de fogo em Pentecostes e o sangue derramado por Cristo e pelos mártires, além de indicar a caridade inflamante.


O verde se usa nos Ofícios e Missas do Tempo Comum. Simboliza a cor das plantas e árvores, prenunciando a esperança da vida eterna.


O roxo é usado no tempo do Advento e da Quaresma. Pode também ser usado nos Ofícios e Missas pelos mortos. Significa penitência, aflição e melancolia.


O preto pode ser usado, onde for o costume, nas Missas pelos mortos. Denota um símbolo de luto, significando a tristeza da morte e a escuridão do sepulcro. Ao contrário do que pensam muitos clérigos e leigos, a cor preta não foi abolida nem pela IGMR anterior (que acompanhava o Missal de S.S. Papa Paulo VI) nem pelo atual. Segue sendo uma opção para a missa pelos mortos, onde for costume utilizá-la. No Brasil, contudo, o uso do preto nas celebrações pelos fiéis defuntos foi, na prática, abolido, havendo sido substituído pelo uso do roxo, uso este facultado pela própria IGMR. Isto não constitui óbice, contudo, para que um clérigo venha a utilizar paramentos negros.


O rosa pode ser usado nos domingos Gaudete (III do Advento) e Lætare (IV da Quaresma), ocasiões em que também poderá ser utlizado o roxo.


Cores para dias festivos
Casula festiva



A nova IGMR não repete, em sua edição latina, o texto do antigo nº. 309, que estabelecia: "Em dias de maior solenidade podem ser usadas vestes litúrgicas mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia." Contudo, a manutenção de tal norma subjaz à interpretação do atual nº. 347 (antigo 310), ao estatuir que "As Missas Rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a festiva;". Ora, se as missas rituais podem ser celebradas facultativamente com a cor própria do dia ou com a cor branca ou com a festiva, compreende-se que a festiva seria precisamente aquela espécie de vestes mais nobres, ainda que não sejam da cor do dia, como estava no antigo nº. 309. Um exemplo patente de uso de veste festiva na Liturgia são as cores dourada e prateada em substituição ao branco, uso ademais bastante difundido pelo Brasil e pelo mundo. Outro exemplo interessante foi o uso de uma casula multicolorida por S.S. João Paulo II quando da abertura da Porta Santa no Ano Jubilar de 2000 D.C.


Contudo, deve-se estar atento ao aviso feito na Instrução Redemptionis Sacramentum pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos:“ Esta facultação, que também se aplica adequadamente aos ornamentos fabricados há muitos anos, a fim de conservar o patrimônio da Igreja, é impróprio estendê-las às inovações, para que assim não se percam os costumes transmitidos e o sentido de que estas normas da tradição não sofram menosprezo, pelo uso de formas e cores de acordo com a inclinação de cada um. Quando seja um dia festivo, os ornamentos sagrados de cor dourado ou prateado podem substituir os de outras cores, exceto os de cor preta.”

O Azul



Cabe também mencionar o uso litúrgico da cor azul para Festas e Solenidades da Santíssima Virgem Maria. O azul não é uma das cores litúrgicas previstaspela IGMR, mas seu uso é largamente difundido no Brasil e alhures. A origem de seu uso litúrgico moderno parece remontar a um privilégio papal dado a algumas dioceses espanholas para seu uso somente na Solenidade da Imaculada Conceição.
Segundo o Pe. Polycarpus Rado, : "A cor cerúlea foi usada no medievo, sendo agora permitida apenas em algumas dioceses da Espanha na festa da Imaculada Conceição e nas missas de sábado." O privilégio teria sido estendido aos países da América Latina e às Filipinas, de colonização espanhola.


Alguns liturgistas exprobam o uso de uma cor não autorizada na Liturgia. Contudo, podem-se utilizar os seguintes argumentos na defesa de seu uso litúrgico:


1) Sabendo-se que o costume também é fonte do Direito canônico, poder-se-ia argumentar que o azul para festas marianas incorporou-se, por via consuetudinária, às cores litúrgicas da Igreja.


2) Se a IGMR permite que paramentos festivos de outra cor que não a do dia sejam usados em ocasiões especiais (e.g., o dourado e o prateado, ambos não previstos na edição latina da IGMR), como explicado acima, não há razão por que impedir o azul nas festas de Maria Santíssima.


Também a favor do azul, o recente uso que S.S. Papa Bento XVI fez de tal cor, em sua visita ao santuário mariano austríaco de Mariazell, de modo a demonstrar a tolerância com o uso desta cor nas festas marianas. Caso o uso do azul não fosse ao menos aceito, ainda que extra-oficialmente, a autoridade máxima da Igreja estaria incorrendo em um erro litúrgico. Não se crê, contudo, que Bento XVI, exímio liturgista, aceitasse o uso de paramentos de tal cor caso julgasse-a inadequada para as celebrações marianas.






sábado, 16 de janeiro de 2010

O NOVO PADRE VASCO

P.e Vasco de Oliveira Pedrinho – Pároco de S. Vicente da Branca

O P.e Vasco Pedrinho, 32 anos, é pároco da Branca desde 4 de Outubro de 2009. Padre da Diocese de Lamego, ordenado no dia 10 de Agosto de 2002, está “emprestado” à Diocese Aveiro, tendo colaborado na paróquia de Beduído (Estarreja) entre Fevereiro e Outubro deste ano.



CORREIO DO VOUGA – Como estão a ser estes primeiros tempos na paróquia da Branca?
P.E VASCO PEDRINHO – Estão a ser bons, mais ou menos de acordo com o que eu pensava. Já sabia, quando estava em Estarreja, que é uma paróquia grande, com uma certa dimensão populacional e com vários centros de culto – três para além da Igreja. É um desafio, para mim, conhecer e ir sempre mais além na acção pastoral, dando resposta às necessidades da comunidade.


Conte-nos o seu percurso até chegar à Diocese de Aveiro.
Fui pároco durante cinco anos no arciprestado de Cinfães, diocese de Lamego. O Sr. Bispo de Aveiro é de Tendais e eu estive nas paróquias vizinhas. Depois fui destacado pela Conferência Episcopal para a Pastoral Juvenil Nacional. Estive em Lisboa um ano. Não me enquadrei bem naquele trabalho. Senti que seria necessário uma formação em Pastoral Juvenil, para além da experiência, que era pouca da minha parte. Entretanto cessou esse meu mandato e D. António Francisco requereu ao bispo de Lamego, D. Jacinto, que me dispensasse e viesse ajudar na Diocese de Aveiro.


O nosso Bispo já tinha sido seu superior no tempo do Seminário?
Não. Ele tinha sido vice-reitor do Seminário de Lamego, uns anos antes. Só foi meu professor de Teodiceia ou Teologia Filosófica.


A sua entrada na Diocese aconteceu em Estarreja…
Fui para Estarreja no dia 15 de Fevereiro. Era um lugar muito necessitado, atendendo às limitações do Sr. Reitor, P.e Fragoso, em termos de visão. Estarreja é uma comunidade com dinâmica e vigor, muito participativa. Tenho boas recordações…


…Por isso, uma delegação de Estarreja acompanhou-o ao entrar na Paróquia de S. Vicente da Branca.
Sim. Veio uma boa representação da paróquia de Beduído como testemunho de amizade e sinal de que os laços perduram para além dos escassos meses… Houve marcas de parte a parte, uma empatia recíproca.


Na sua nova paróquia, qual é a sua maior preocupação pastoral?
Que as pessoas vivam a partir de Cristo e com Cristo e que a partir dele se construa uma verdadeira comunidade, onde não baste falar do Evangelho, mas se viva o Evangelho. E que este seja motivo de transformação e de renovação da comunidade e das pessoas. Em termos de prioridades, é importante apostar na formação das crianças e dos jovens, através da catequese, e dos adultos também. Há momentos e âmbitos em que podem e devem participar.


Como sente que as pessoas olham hoje para o padre?
As que pessoas que vivem a fé têm carinho pelo padre que está à frente da comunidade. Isso é notório. Há boa aceitação, respeito. Da minha parte também procuro fazer tudo para que corresponda àquilo que é necessário para as pessoas ao nível da vivência da fé.


O que é para si ser padre hoje?
A pergunta é geral, mas devemos ir sempre à fonte. E a fonte é Jesus Cristo, é Deus, que chama. Ser padre é ser o rosto de Cristo entre as pessoas. Qualquer cristão pode e deve sê-lo, à sua maneira. Mas o padre é, de facto, de modo especial, esse sinal da presença de Jesus Cristo.


Quando surgiu a sua vocação para o sacerdócio ministerial?
Desde muito cedo. Ainda ontem (25 de Novembro), estive nas escolas, a convite da professora Idalina, porque estão a tratar o tema vocacional nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, e relatei o meu percurso, desde a quarta classe. Nessa altura já sentia uma certa simpatia por ser padre. Admirava a sua figura, talvez por influência do meu pároco. O ambiente familiar também foi favorável. Os meus pais andaram pela Acção Católica e pelos Cursos de Cristandade. Quando eu tinha 10-11 anos, o meu pároco perguntou-se se queria conhecer o Seminário e eu disse que sim. Integrei depois o Pré-Seminário e fiz os meus estudos em escolas públicas até o 12.º ano. A minha “carreira” de seminarista limita-se ao curso superior de seis anos no Seminário Maior.


Na actualidade é mais difícil a dinâmica vocacional?
A meu ver, o problema é o ambiente, que é adverso às vocações em geral. Vemos que, no caso do matrimónio, o modelo tradicional de família está abanado. As vocações religiosas e sacerdotais também se ressentem desse ambiente que não é favorável. Até o facto de as famílias terem menos filhos é contrário ao surgimento de novas vocações.


O ambiente é adverso por não incentivar compromissos?
Julgo que sim. Há dificuldade em assumir compromissos a longo prazo, em assumir uma vida totalmente entregue. Por isso é que também há um número avultado de divórcios.


Referiu há pouco a ida às aulas de EMRC da EB 2.3 da Branca. Como tem sido a experiência?Tem havido bom acolhimento por parte da comunidade escolar, quer dos funcionários quer dos professores. E os miúdos fazem uma festa.


Muitos são seus paroquianos…
Quase todos. Alguns estavam bastante ansiosos por me verem. A Sr.ª professora já os tinha preparado. Dei-lhes o meu testemunho e respondi a questões.


Que questões surgiram?
As normais. Por exemplo: Por que é que os padres não se podem casar? Eu respondo-lhes que a Igreja, no seu todo, assim estabeleceu, e que o celibato não é uma imposição, mas uma opção, porque os que querem ser padres contam com essa condição. Mas também lhes digo que nem sempre foi assim na História da Igreja. Perguntam também porque é que as mulheres não podem ser padres. As perguntas reflectem muito a comunicação social.


A ida à escola foi espaço de proposta vocacional?
Noto sempre que esta presença do padre nas escolas é positiva. Poderá dar os seus frutos. Fala-se de encontros do Pré-Seminário, há uma ficha que é distribuída. Alguns dizem logo: “Eu não!” Mas outros dizem que querem ir ao Seminário e que lá se joga futebol…


Há dias esteve no Seminário de Aveiro com um grupo da Branca…
Foram catequistas, pais, jovens e crianças além de mim e do diácono Luís [diácono permanente de Lamego que está com o P.e Vasco na Branca]. Penso que é muito importante que os adultos conheçam por dentro o Seminário para incentivarem e explicarem aos mais novos.


O que gosta de fazer no seu tempo livre?
Gosto de ler e passear. Leio principalmente livros espirituais, de formação religiosa, relacionados com a fé e o meu ministério. Não vou muito para coisas como “O Código da Vinci”, mas reconheço que até devia co-nhecer para poder falar. Mas é uma literatura que não me cativa. Um dos últimos que li foi “A saga de um pensador”, de Augusto Cury. Gosto de passear e de conhecer terras e paisagens. Gosto da serra e do mar.


Daqui de cima [a Igreja da Branca e a residência paroquial ficam no alto da vila], vê-se a ria de Aveiro…
Há dias em que o cenário é extraordinário. Às vezes estou sentado na cadeira presidencial, com as portas da igreja abertas, e vejo a ria e o mar. Ontem à tarde, o sol reflectia-se na água e proporcionava um espectáculo único. É inspirador.


Faz pensar “nas margens do mar da Galileia”?
O mar não é um calmante, mas é algo que dá paz.


Entrevista conduzida por:
Jorge Pires Ferreira
para o Correio do Vouga